sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Verdade e A Árvore

A Verdade
 (C.Drummond de Andrade)

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil da meia verdade
e sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil
e os meios perfis não coincidiam.

arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

A Verdade
(Shakti Leal)

"Escrevo de lápis porque lápis, a gente pode apagar e escrever de novo.
Quero me apagar inteirinha e me escrever de novo.
E se pudesse fazer isso não escolheria nada para ser e, sendo assim, observaria o que eu seria.

Se a verdade não exisate posso ser qualquer coisa que acredite e então criar a minha verdade.
A verdade dentro de mim. Aquela, lá no fundo. Tão fundo que não consigo alcançar e,
acabo morrendo antes de chegar.

Vivo na mentira de viver verdades.
E tudo assim, parece ser natural.
As coisas são assim. Tudo está em ordem.
Todos vivemos assim, criando nossas verdades.
Impondo nossas verdades como se elas pudessem ser mais verdadeiras e apagassem as verdades dos outros.
Não sabemos fazer diferente.
Presos à liberdade que essa tal encontrada verdade nos trás.

Mesmo escrevendo à lápis, não poderei fazer diferente.
Presa à liberdade que essa minha tal verdade me trás.


Foto de Marcelo Toledo.
Tudo isso me lembra o filme do Malik, "A Árvore da Vida".

Homenagem a essas verdades que, na verdade, são dúvidas. O encantador mistério da vida.

Será que verdade vem do verde?

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