domingo, 27 de novembro de 2011

Na borda, sem bordas no trans-bordar

O infinito na borda do píer, de frente pra mim, me engoliu em sua vastidão e me despiu.Da silhueta fui me desfazendo em curvas perdidas, me achando espalhada pelo céu enfeitado de luz. Acho que tudo aquilo esperava para se mostrar em mim. Tudo à volta me seduziu e eu seduzi tudo à minha volta. O prazer começando na ponta dos pés eletrizava tudo em mim. Sem bordas, permeada pelo Uno.
  

sábado, 26 de novembro de 2011

Aulas Especiais de Iyengar Yoga no Nirvana e Oficina em Petrópolis

Queridos amigos, alunos e interessados!

Namaskar!


Estou organizando os primeiros encontros no próximo ano.
São aulas especiais no Nirvana e uma oficina em Petrópolis.
Meu objetivo é compartilhar com vocês a poesia que encontro no método, a partir da prática dos alinhamentos. Me encanta cada vez mais a inteligência e consciência que a prática nos revela. Vejo isso na minha prática e na dos meus queridos e dedicados alunos.
"...é preciso estender-se mentalmente para fora a partir do centro do corpo, ou seja, pensar alto e agir rumo ao alto. Pense não apenas em erguer os braços, mas em estendê-los para fora no sentido físico, e, ao matê-los imóveis, pense de novo em estender a inteligência, alongar-se mais além do seu corpo. Não pense em si mesmo como alguém pequeno, contraído, como alguém que sofre. Pense em si mesmo como alguém gracioso e em expansão, por mais improvável que isso pareça no momento" Luz na Vida pg.71

As aulas são para todos os níveis.
Bemvindos todos!

Para se inscrever mandem e-mail: shaktileal@ig.com.br ou shakti.leal@enirvana.com.br que lhes envio a ficha de inscrição.

Segue abaixo a divulgação.





Beijos de luz!

sábado, 19 de novembro de 2011

Não acredite em mim

Não acredite em mim.
Não tenho nenhuma verdade para lhe contar.
Tudo que precisas está dentro do teu coração.
Só poderá encontrar o "tudo"se estiveres livre para isso.
Estar livre significa muitas coisas neste mundo de prisões que criamos mas a única pessoa que poderá fazer estas "muitas coisas" por você é você mesmo.
Sei que é um tanto difícil.
Também estou tentando.

Foto: Bruno Pessoa

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Em Pouso, sobre a cabeça

Na praia de Pouso, enquanto o barco não vinha, me lambuzei de areia, virei estrela de chão, brilhei de sol e de pernas pro o ar fui ver o infinito horizonte me olhar de cabeça pra baixo.
Registrei esse olhar.

http://www.youtube.com/watch?v=k-knkKA8vrg

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Diário de Tremembé 14 de otubro de 2011 - NO PUJA...

ProteçãoEntregaConfiançaHarmoniaPerfeiçãoVirtuosidadeAlegriaPazDevoçãoReligaçãoEquilibrioGraçaDivinoShivaKrsnaBrhamaVisnuLaskshmiPatanjaliGaneshaDeusesPalavrassânscritas...

Palavras sânscritas relaxando os ouvidos,
fechando os olhos,
calando a língua.
Círculos infinitos de prana
passando pelas narinas.
O fogo purificando, queimando:
a vaidade, a rigídez, a opaca dureza.
O sofrimento queimando no fogo dos cinco deuses que regem o universo, 
das quatro direções, 
dos três gunas.

Fumaça de cânfora evaporando o que não compreendo, me cobrindo não sei de quê, e que pelas mãos, vem me vestindo da cabeça aos pés.
Transpondo os poros...
Coração espiritual, por detrás do esterno,  interno.

Ilumina, num rápido lampejo, a mente.
É um rápido lampejo mas a mente, ilumina!

Mente que não mente, neste instante.
É só verdade aquilo que vem,
daquilo que vem.
Não sei bem  como é, mas deve ser  verdade
porque faz bem.
De um jeito simples que só a verdade tem.

(Um jeito que achei de brincar de encontrar a verdade é que, quando é verdade a gente sabe que não cabe nas palavras e que ninguém precisa entender.)

O Todo em mim. De mim o Todo. Um Todo só!

Mão esquerda no cotovelo direito e a mão direita à oferecer.
Mãos unidas no peito, no centro.
No centro da testa.
Voz que soa em todo som
AUM.
Dhoti branco, blusa branca, tilak vermelho.
Linha vertical abrindo a fronte.
De frente.
Pra gente.
Parece que abre a fronte de toda gente que vê aquela fronte, de frente.

AUM shanti, shanti, shantih.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Diário de Tremembé - 13 outubro de 2011

Eu, Sushiila e Fernandinha na estrada ouvindo Marisa Monte, Nina Simone, Miles Davis, Marcelinho da Lua, Roberta Sá... papo leve, risadas, paradinha obrigatória, estrada tranquila, chuva rala, destino certo sem errar de caminho: Tremembé – Hotel Fazenda Maristela.
Elas trouxeram guloseimas saudáveis: crispinhos de alguma coisa com melado de cana, biscoitinhos sem glúten, bananada sem açucar e eu, que não trouxe nada do gênero, só comi rsrs.
Na chegada, a gente mais um monte de gente. Abraços, beijos, sorrisos. Gente que a gente revê. Gente boa pra abraçar sem precisar falar nada. Acho que essa é uma das melhores partes: quando as palavras são desnecessárias. O sorriso e o abraço é a melhor linguagem.
Visitei o quarto da Sushiila e da Fernandinha na casa principal. Fui até o meu. Que coincidência!(?), é o mesmo do ano passado. Três camas arrumadas significa que terei 2 companheiras. Fui conhecer o quarto do Nando também. Deu vontade de ficar no quarto com ele mas já tinha alguém para se hospedar lá. Ah! Tudo bem. Tudo está bem.
Falação de bobagem com o Nando no pátio. Rir é terapeutico e libera tensão. Com o Nando do lado então... a gente vai fácil. Delícia ficar com as mandíbulas cansadas de tanto rir. Garganta livre!
No jantar comidas de tantas cores, texturas, sabores e cheiros diferentes...  e aquele monte de gente, colorindo seus pratos conforme sua fome ou gula. Mais re-encontros, conversas amenas.  Um zum-zum-zum e eu na sopa, no quente, no doce... depois uma vontade de cobrir me da noite.
Conversa de ex-pressão com o Rafa. Cada um revelando seus processos catárticos . Muito interessante essa verdade que não é única nem de ninguém mas genuína em cada um.
Antes de me retirar do salão, após os costumeiros avisos que permeiam os protocolos do curso...  um namaskar e um abraço apertado do Faeq. Palavras de tranquilidade trazendo encorajamento. Devo confessar que admiro sua sensibilidade e psicologia. Mente clara e focada.

Não sei o que é mas parece mágica, que vem dos olhos e do sorriso largo a certeza de estar no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa com as pessoas certas.

Aí vem aquela vontade da solitude.
De caminhar devagar e perceber o brilho da lua nas pedrinhas chutadas pela ponta do meu tênis.
Passos leves, gestos suaves...  a noite entrando pelos pulmões e me esvaziando de mim mesma...
Uma câmera lenta filmava o trajeto até chegar no quarto, esvaziar a mala, organizar os livros... BKS Iyengar ao lado de Manoel de Barros. Perfeito! Dois sagitarianos de noventa e tal de anos me ensinando  o caminho pra dentro. Cada com sua poesia.
Um pássaro da noite fazendo serenata na janela do meu quarto. Não posso vê-lo mas posso senti-lo no canto, na boca.
Descobri que estou sozinha no quarto. Solitude.
E eu vou. Vou indo, apenas indo... assim é bom.
Está tudo bem.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quadro ideal (?)

Gosto de imaginar a vida como uma foto, um quadro.
Metade colorida,metade preto e branco.
Vou colorindo, em cores vibrantes,  os lugares, as coisas, as pessoas que, de alguma forma, me preenchem.
Pinto em preto e branco, lugares, coisas e pessoas que não me preenchem tanto assim.
Depois de um tempo, vou pintando preto e branco o que era colorido e vou colorindo o que era preto e branco.
Acho interessante a mudança das cores.
Elas correspondem às  mudanças dos valores e sentimentos.
Fico olhando pra esse quadro chamado “minha vida” e vendo quantas vezes suavizei ou intensifiquei as cores.
Não tenho a menor idéia de como ele vai terminar mas, de certo,  vou aprendendo a não colorir e nem descolorir demais.
De certo, não chegarei ao ton ideal.
O ton ideal não existe mas me move em sua busca.
Agora, estou de frente para esse quadro escolhendo novas cores.
E assim... talvez... quem sabe...  esse quadro fique bonito.
Sei lá.
Acho que o processo é mais interessante que o resultado.

                                              Números e constelações em amor com uma mulher (Joan Miró)

sábado, 3 de setembro de 2011

O Cérebro e a Prática do Yoga


Fui atraída pela capa da edição de setembro de revista Superinteressante: Como tomar decisões, ensine seu cérebro a escolher melhor. A experiência(sistema de recompensa) me fez comprar a revista.
 
Fiz um resumo da matéria e intui (o pressentimento trabalhando) que agregar à ela, algum texto interessante de yoga  iria “clarear” (através da razão) minhas escolhas.

Então achei um texto, de um dos livros de Iyengar Yoga que decoram minha estante, alimentam meus estudos e trazem sentido à minha prática.

Concluindo, posso resumir minha pesquisa com a capa da matéria e a última frase do texto do livro:
Como tomar decisões, ensine seu cérebro a escolher melhor:  praticando yoga pois, sua prática  leva uma mente desconexa e dispersa a um estado de conexão e reflexão.

Boa prática!

Seguem abaixo os textos para que possam conferir:

CÉREBRO
A RAZÃO - Cortex pré-frontal


Área do cérebro que fica logo atrás da testa e raciocina em cima dos nossos problemas.
É responsável  pelas tomadas de decisões importantes em nossas vidas. Isso acontece através de um  sistema  simples: comparar tudo.

Essa “frieza” é parte do papel que a razão tem nas nossas escolhas. É o contra ponto aos sentimentos irracionais, como emoções e instintos, que se preocupam com o resultado imediato das nossas escolhas.

As primeiras decisõe racionais do homem aconteceram entre 200 a 100 mil anos atrás por causa da evolução social. Nessa época,  o homem passou a fazer escolhas para preservar o clima de cooperação no bando.
Em 1848, um caso ajudou a ciência a entender como a razão opera.  Um acidente com um operário, na construção de uma estrada de ferro nos EUA,  em que uma barra de ferro atravessou seu  crânio. Ele sobreviveu, mas teve uma sequela esquisita: ficou excessivamente racional. Não demonstrava emoções e não tomava decisões que fugissem à simples lógica de uma matemática.

Porém, só na década de 80 foi descoberto que o problema desse operário era o mesmo de pacientes que haviam passado por cirurgia para a retirada de tumores no cérebro. Essas pessoas haviam perdido uma área do córtex pré-frontal que interpreta emoções primitivas, fundamental para que o cérebro faça uma conferência entre nosso lado racional e nosso lado irracional. E que, sem sentimentos, escolhas banais ou complexas podem se tornar impossíveis.

O INSTINTO - Amídala e Ínsula


O instinto funciona como uma espécie de vigilante dentro do corpo. Atento à preservação do corpo, ele dispara impulsos que nos fazem proteger a vida, buscar alimentos, procurar parceiros, competir.
Esse trabalho é responsabilidade de um sistema, que depende de duas áreas importantes do cérebro: amídal e ínsula. Junto com o resto do sistema, elas carregam impulsos como herança do homem por milhares de anos atrás, que competia por tudo na natureza.

Esse estado de alerta, até hoje, tem voz nas nossas decisões, mesmo quando estamos diante de escolhas aparentemente racionais. Essa é uma das grandes descobertas da ciência nas últimas décadas: o instinto influencia nossas escolhas constantemente, mesmo quando a gente não quer.

Para nos proteger, a amídala e a ínsula enviam impulsos fortes que chamamos de sentimentos, às vezes até de presentimentos, porque é como se ajudassem a farejar o perigo. Esses impulsos então são interpretados pelo córtex pré-frontal, parte racional do cérebro. Percebemos que estamos com medo ou com fome, por exemplo.
Você carrega milhares de anos de evolução na arte de buscar o perceiro ideal, mesmo sem saber disso racionalmente. Se uma boa combinação aparecer, o instinto vai lançar estímulos para a parte racional do cérebro. E você se sentirá atraído por alguém. Sem o instinto, não conseguiríamos escolher as coisas mais básicas da vida. Mas, é importante lembrar que o instinto ajuda principalmente nas decisões imediatas. Quando você se sente atraído por alguém, não quer dizer que vá se casar com ela. Isso depende de outras engrenagens do cérebro.

EXPERIÊNCIA - Núcleo Accumbens


Viver é aprender. Todas as experiências que acumulamos na vida são registradas e catalogadas por uma região do cérebro, o sistema de recompensa.  O núcleo accumbens, no centro de recompensas, registra sensações ligadas à memória. E avisa quando vê uma situação que deu certo no passado. Essa área se lembra de tudo que nos deu prazer em algum momento da vida. E do que nos deu frustração. Esses dados ficam guardados porque podem ser extremamente úteis em certos momentos.

Quando não podemos agir racionalmente, seremos guiados pela experiência. Em situações parecidas vividas por nós, o sistem de recompensa anota o nível de prazer e de frustração de cada situação. Nas que fomos bem-sucedidas, neurônios liberam dopamina, uma substância ligada ao prazer, e associamos essa situação com alegria. Então, diante de um quadro parecido, os neurônios já sabem o que fazer: disparar dopamina antes da decisão. É um aviso para o resto do cérebro que indica o caminho a ser seguido.

Não é que a gente lembre do que já fez no passado e decida racionalmente repetir nossos atos. Os neurônios que controlam as doses de dopamina acessam a nossa memória constantemente para orientar o cérebro sobre as alternativas. Você nem chega a lembrar de nada: tudo acontece rápido demais, só dá pra sentir um bem-estar quando percebe que uma opção é melhor que a outra.

Jogo, cigarro, álcool e drogas também deixam um rastro no centro de recompensas. O prazer que tivemos alguma vez com vícios fica registrado e nos estimula a repeti-lo em outras ocasiões.

A DECISÃO CERTA
Tomar uma decisão envolve uma disputa entre os 3 participantes – dois deles (instinto e experiência) cuidam do seu  presente, o outro (a razão) pensa no futuro.
Antes de decidir talvez você resolva usar a razão, ou não. Tanto faz: em qualquer decisão, o importante é pensar se aquele problema merece uma consideração mais racional ou emotiva. E só aí começar a julgar as informações e argumentos. Assim, o cérebro começa a movimentar as engrenagens sabendo qual delas interessa mais. Evita erros.

Sim, porque até ser racional pode trazer arrependimentos. A razão compara tudo para encontrar a solução mais lógica, certo? Nessa hora o instinto pode ajudar  mais. E por que não confiar na experiência, que poderia disparar dopamina?

As emoções, se usadas na hora errada, também podem fazer vocêtomar a pior decisão. Você pode cometer um desatino. Acaba tomando uma decisão que você, normalmente, não tomaria. A ciência já provou que isso acontece. Até a mais brilhante e racional das pessoas, no calor da paixão, parece completamente divorciada da pessoa que ela pensou que fosse. A solução é usar a razão antes desse ataque das emoções.

Saber qual ferramenta você prefere usar para cada dilema ajuda o cérebro a se focar nas consequências esperadas com a decisão. Assim, a chance de arrependimento pode diminuir. De qualquer forma, nem sempre uma decisão é 100% racional ou 100% emocional, e sim uma combinação de razão, instinto e experiência. Ainda que a voz de uma delas fale mais alto, todas vão contribuir para suas decisões. O importante é entender que podemos usar melhor de todas essas alternativas. A boa notícia é que o sistema de recompensas vai anotar tudo se você se arrepender de alguma escolha. E lançar alerta da próxima vez que você tentar cometer uma burrada.

(Revista Superinteressante – edição 295 – SET-2011 – págs. 58 à 67)


FUNDAMENTOS DO YOGA
O yoga é um processo no qual se estabelece o entendimento apropriado entre as cinco camadas(kosas) que constituem o praticante. 
O yoga estabelece as ligações adequadas entre o corpo e os nervos, nervos e mente, mente e inteligência, inteligência e desejo, desejo e percepção, percepção e consciência, consciência e o ser e, finalmente, o ser e a Alma Universal.

O yoga dá grande ênfase ao sádhana – prática. Desta maneira, o yoga possibilita o atingimento do puro estado de consciência para a percepção do Ser.

O yoga não é somente uma arte e ciência, mas também uma filosofia. Ele orienta a arte de viver e melhora a qualidade de vida e a dignidade da vida do praticante. Como ciência, lida com a saúde, força e conquista do corpo, assim como da mente. É uma filosofia que capacita o ser a atingir o equilíbrio e enfrentar todas as vicissitudes da vida, tristezas e alegrias com tranquilidade.

O yoga é uma disciplina prática. É uma disciplina mais direta e experimental do que disrcursiva. Sua prática leva uma mente desconexa e dispersa a um estado de conexão e reflexão.

(extraído do livro Basic Guidelines for Teachers of Yoga,  BKS Iyengar e Geeta S Iyengar, parte II cap.VI)


 
Shakti em parivrtta trikonasana 
foto de Carol Chediak para o Espaço Nirvana


 Lembrete: professores de yoga não são Gurus Iluminados, são praticantes que dividem conhecimento para que todos possam iniciar sua jornada de consciência.

Namaskar!

domingo, 28 de agosto de 2011

O Caracol


O CARACOL - Que é um caracol? um caracol é/ a gente esmar/com bolsos cheios de barbante, correntes de latão/maçanetas, gramofones/etc./Um caracol é a gente ser: / por intermédio de amar o escorregadio / e dormir nas pedras  / É: / a gente conhecer o chão por intermédio de ter visto uma lesma / na parede / e acompanhá-la um dia inteiro arrastando / na pedra / seu rabinho úmido / e / mijado. / Outra de caracol: / é, dentro de casa, consumir livros cadernos e / ficar parado diante de uma coisa / até sê-la / Seria: / um homem depois de atravessado por ventos e rios turvos / pousar na areia para chorar seu vazio. / Seria ainda: / compreender o andar liso das minhocas debaixo da terra / e escutar como grilos / pelas pernas. / Pessoas que conhecem o chão com a boca como processo de se procurarem/ essas movem-se de caracóis! / Enfim, o caracol: / tem mãe de água / avô de fogo / e o passarinho nele sujará. / Arrastará uma fera para o seu quarto / usará chapéus de salto alto / e há de ser esterco às suas próprias custas!

Do livro Gramática Expositiva Do Chão;  III. páginas 13, 15 e 16 dos "29 escritos para conhecimento do chão através de S.Francisco de Assis"

Foto: Marcelo Toledo

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Verdade e A Árvore

A Verdade
 (C.Drummond de Andrade)

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil da meia verdade
e sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil
e os meios perfis não coincidiam.

arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

A Verdade
(Shakti Leal)

"Escrevo de lápis porque lápis, a gente pode apagar e escrever de novo.
Quero me apagar inteirinha e me escrever de novo.
E se pudesse fazer isso não escolheria nada para ser e, sendo assim, observaria o que eu seria.

Se a verdade não exisate posso ser qualquer coisa que acredite e então criar a minha verdade.
A verdade dentro de mim. Aquela, lá no fundo. Tão fundo que não consigo alcançar e,
acabo morrendo antes de chegar.

Vivo na mentira de viver verdades.
E tudo assim, parece ser natural.
As coisas são assim. Tudo está em ordem.
Todos vivemos assim, criando nossas verdades.
Impondo nossas verdades como se elas pudessem ser mais verdadeiras e apagassem as verdades dos outros.
Não sabemos fazer diferente.
Presos à liberdade que essa tal encontrada verdade nos trás.

Mesmo escrevendo à lápis, não poderei fazer diferente.
Presa à liberdade que essa minha tal verdade me trás.


Foto de Marcelo Toledo.
Tudo isso me lembra o filme do Malik, "A Árvore da Vida".

Homenagem a essas verdades que, na verdade, são dúvidas. O encantador mistério da vida.

Será que verdade vem do verde?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

apreciar: verbo transitivo; dar apreço a; avaliar, considerar


 tenho tanto sentimento
que é frequente persuardir-me
de que sou sentimental,
mas reconheço, ao medir-me,
que tudo isso é pensamento,
que não senti afinal.

temos, todos que vivemos
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada
e a única vida que temos
é essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada.

qual porém é a verdadeira
e qual a errada, ninguém
nos saberá explicar;
e vivemos de maneira
que a vida
que a gente
 tem
é a vida que tem que pensar.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pranayama por BKS Iyengar

Escolhi dois trechos do capítulo do livro "Luz na vida" onde o mestre Iyengar fala sobre pranayama.
No meu julgamento, acredito que esses trechos trarão inspiração e esclarecimento.
Boa leitura!
Boa prática!

"Só iniciei a prática do pranayama em 1944, quando fazia vários anos que ensinava yogasana. Talvez seja um alívio para você saber que, por pior que seja o seu pranayama, dificilmente será pior que o meu nos primeiros anos. Acordava às quatro da manhã e tomava café com minha esposa. Geralmente, acabava voltando para a cama. Quando não, depois de três ou quatro minutos, começava a arfar e tinha de parar. A capacidade dos meus pulmões ainda afetada em virtude da tuberculose na infância; além disso, eu sempre exigia demais de mim nas extensões de coluna. Ganhara flexibilidade com elas, mas não resistência. Por alguma razão eu perseverava, apesar do meu peito retesado e das dores musculares. Mesmo com as costas apoiadas na parede, minha respiração era pesada e difícil. Aos poucos comecei a perceber que, enquanto as extensões fortaleciam os músculos internos da coluna, as flexões para a frente desenvolviam meus músculos externos. Passei então a fazê-las, medindo o tempo para ganhar resistência. A dor era intensa, como se um malho atingisse minhas costas, e a sensibilidade persistia por horas depois disso. Concentrei-me também nas torções, para construir os músculos laterais. Tudo isso era muito frustrante, e, ainda que evitasse o abatimento que pode resultar da prática, eu me sentia terrivelmente inquieto. Não se pode fazer pranayama com a mente agitada. às vezes, sentia-me renovado; outras desalentado e tenso, já que nunca conseguia relaxar o cérebro na inspiração nem entender a necessária arte do controle do processo de expiração. A tenacidade consiste em sustentar a postura do pranayama de modo a permitir flexibilidade interna e evitar que o movimento do ar perturbe a postura. Felizmente, eu sabia manter a coragem e a determinação diante de sucessivos fracassos."

"O pranayama não é a respiração normal - nem simplesmente a respiração profunda. É a técnica de gerar energia vital pela fusão e dois elementos antagônicos: fogo e água. O fogo é o atributo da mente, e a água, o elemnto que corresponde ao corpo fisiológico. A água apaga o fogo, e este evapora a água; não é fácil, portanto combiná-los. O ar que corre pelos pulmões é o que gera a corrente dinâmica que funde água e fogo e produz um fluxo energético de prana. Este se espalha pelo sistema nervoso e pela corrente sanguínea e assim se distribui pelo corpo, rejuvenescendo cada célula. O elemento terra que compõe o corpo, fornece o local físico para a produção de energia, e o quinto e mais sutil elemento, o espaço ou éter, oferece o meio necessário para a sua distribuição. A necessidade de um espaço harmonioso e simétrico explica a importância da coluna - pilar central do sistema nervoso - e sua musculatura de sustentação. Ao erguer e separar as 33 articulações da coluna vertebral e abrir as costelas como as garras de um tigre, aprofundamos e prolongamos a respiração."

Céu azul

domingo, 24 de julho de 2011

Máscaras

Parei em frente ao espelho e me vi. 
Não sei dizer se gostava do que via mas isso não era importante. 
Ali, de frente pra mim, máscaras sem fim.
Tirei uma máscara e encontrei outra.
Por trás dessa outra... outra e mais outra. 
E outra, outra e outra...
Tirando todas as máscaras, o que restará?
Livrai-me de todas as máscaras.
Livrai-me de todas as máscaras.




terça-feira, 19 de julho de 2011

Lavanda


Lavanda
Lava Anda
Lava'lma
Alma Lavada
Eleva Alma

Dharma

Sobre Dharma por BKS Iyengar

Dharma = religião, lei, mérito, justiça, boas obras, a natureza essencial de uma coisa: o código de conduta que sustenta a alma e produz virtude, moralidade. Aquilo que se sustenta, contém e apóia.

O Dharma diz respeito à busca de princípios éticos permanentes, ao cultivo do comportamento correto nas dimensões físicas, moral, mental, psicológica e espiritual.

Tal comportamento deve estar associado ao crescimento do indivíduo que tem a meta de alcançar a Alma. Se não for assim, se ele for limitado ou distorcido pelo viés cultural, então não corresponde ao dharma

Lembro que quando começei  a meditar e a estudar  querendo  entender um pouco sobre a filosofia do yoga ouvia muito a palavra Dharma.
Me encantei pela definição de Shrii Shrii Anandamurti que gosto de resumir assim: como a natureza do fogo é queimar, a da água é molhar, a natureza do ser humano é ser feliz.

Aos poucos fui entendendo que essa felicidade não é um estado de euforia nem vem de influências externas.
Quando começei a dar aulas de yoga percebi a felicidade.
Ela vinha de um estado de paz interno que se estabelecia quando meu coração tocava o coração das pessoas.
Foi quando percebi que podia levar benefício ao próximo através dessa maravilhosa e completa ciência chamada yoga.
É assim.
Bem, daí por diante muitas outras coisas aconteceram.
Aos poucos vou compartilhando.
Namaskar!